Piada ou não, o humorista e apresentador possui pontos favoráveis para uma possível candidatura. Confira os pontos e dê sua opinião.

 

O cenário político brasileiro é uma sucessão de novidades e movimentos inesperados, que não tem como nos permitir o tédio. Como prova disso, a pesquisa do IPE (Instituto de Pesquisas e Estratégias), encomendada pelo MBL (Movimento Brasil Livre) e divulgada no dia 4 de abril de 2020, nos mostrou o humorista e apresentador Danilo Gentili com 4% de intenção de votos para o cargo à presidência – tecnicamente empatado com Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB-SP), Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) e Luciano Huck. Lula (36%) e Bolsonaro (31%) seguiam como líderes na pesquisa.

É sério ou é piada?

A primeira reação de alguns analistas políticos foi considerar essa candidatura uma piada e, de fato, é uma candidatura inusitada, mas está longe de ser uma mera piada. Explico o porquê:

Caminho aberto: a provável saída de Luciano Huck da disputa (teria renovado seu contrato com a Rede Globo); a baixa probabilidade de Sergio Moro levar adiante sua candidatura; e o Partido Novo sofre com brigas internas e Amoedo (fundador do partido) já admite a possibilidade de não lançar candidatura – são fatos que fazem Danilo Gentili ter o caminho aberto para ser um dos principais protagonistas no campo da Direita na disputa eleitoral de 2022.

– Sérgio Moro: em sua coluna (09/04), mantida na revista Cruzoé, o ex-juiz afirmou que, caso Danilo se candidatasse, votaria nele. Convenhamos que é um apoio de peso e significaria uma reedição da aliança dos lavajatistas e do MBL.

MBL 1 (política): o Movimento Brasil Livre é um dos grandes incentivadores da candidatura de Danilo Gentili. Após eleger 4 deputados federais e 2 senadores em 2018, com um novo modelo de atuação em 2020 ao disputar a eleição para prefeito de São Paulo, o MBL deu um passo além de buscar cadeiras no legislativo, e foi razoavelmente exitoso. A candidatura de Arthur do Val (Mamãe Falei) contava com apenas 17 segundos no horário eleitoral e começou com apenas 1% de intenção de votos (pesquisa IBOPE de 01/out/20), mas terminou a eleição com 9,78% dos votos, garantindo a quinta colocação naquele pleito, com uma diferença de menos de 1% para Celso Russomanno (10,5%) e aproximadamente 3% para o ex-governador Marcio França (13,64%) – nomes que contavam com muito mais apoio e estrutura.

MBL 2 (comunicação): a forma de se comunicar do MBL (utilizando memes e referências satíricas) tem alcançado um público que muitas vezes foge do debate público tradicional, parte por não entender e parte por achar “chato”. Além da forma, o MBL domina a técnica necessária para amplificar suas mensagens. Poucas organizações políticas compreendem tão bem os algoritmos das redes sociais como eles.

– Milhões: Danilo Gentili possui mais de 8 milhões de seguidores no Instagram, quase 17 milhões no Twitter e 12 milhões no Facebook, com um engajamento alto. Com isso, pessoas voluntariamente estão aderindo ao “projeto” #DaniloGentili2022.

Num ambiente político tão polarizado quanto o nosso, com debates pouco aprofundados, contar com canais mais diretos de comunicação com as pessoas é uma tremenda vantagem. Com sua capacidade pessoal, somada a do MBL, pode levar um contingente grande de jovens a se engajar na sua candidatura, grupo que normalmente não se motiva a participar da política.

– Jair Bolsonaro: o atual presidente seria um dos maiores prejudicados com essa possibilidade, pois teria um candidato disputando com ele os votos no campo da direita e, principalmente, alguém com uma grande identificação com o antipetismo e que também domina o campo digital.

À título de curiosidade vale lembrar que tanto Bolsonaro quanto Danilo começaram a ter reconhecimento nacional graças ao extinto CQC.

Pensando bem…

O caminho para 2022 é longo, mas o cenário fica cada vez mais claro. Devemos estar atentos para garantir que os rumos do Brasil sejam bem conduzidos. Para quem ainda considera um absurdo levar a sério as chances de Danilo, ficam as lembranças de Volodymyr Zelenskiy, também comediante, que se elegeu presidente da Ucrânia em 2019; de Beppe Grilo, outro comediante e fundador do Movimento 5 Estrelas (um dos 3 maiores partidos da Itália); e do presidente Jair Bolsonaro, não levado a sério em 2018.

Mas nem tudo são flores… Danilo Gentili enfrenta desafio semelhante ao de Luciano Huck: deixar o conforto de uma posição bem remunerada como apresentador versus as incertezas da disputa eleitoral. Resta-nos saber o que ele irá decidir e observar atentamente se essa história terá graça ou não.

Editoria: Análise política, Eleições, Pesquisa