O que as eleições municipais nos apontam para a escolha presidencial em 2022?

 

Tentar ler ou antecipar como será uma eleição nacional a partir de aspectos das eleições municipais é possível, mas algumas análises podem ser falhas quando se faz uma transposição direta, como por exemplo quando ouvimos: “Bolsonaro não elegeu os principais candidatos que apoiou, logo, Bolsonaro irá perder sua reeleição”. Esse é um raciocínio muito simplista e, sem me alongar muito, chamo a atenção para dois pontos que, usualmente, impactam as eleições e escapam das abordagens mais superficiais.

Espírito do tempo/Clima/Humor:

As eleições municipais costumam antecipar um pouco como está o “humor” dos eleitores (o termo mais apropriado seria zeitgeist – palavra alemã utilizada para definir o clima intelectual e cultural de um determinado período). Em 2016 foi possível perceber o crescimento de um sentimento “antipolítica” e de mudança, cujos principais expoentes foram João Doria, em São Paulo, Crivela, no Rio de Janeiro, e Alexandre Khalil, em Belo Horizonte. Este sentimento cresceu e se consolidou na eleição de 2018, no qual o presidente Jair Bolsonaro foi o principal expoente.

Olhando para 2020, percebemos que os ventos que movem as embarcações políticas não são mais os da mudança, mas sim os ventos da acomodação e da estabilidade, com muitos prefeitos reeleitos (mais de 62% dos prefeitos que disputaram a reeleição tiveram sucesso; em 2016 este índice não chegou a 47%), ou antigos ex-prefeitos agora novamente eleitos.

Agenda:

Os aspectos considerados importantes na escolha de um prefeito são diferentes dos da escolha do presidente. Nas eleições municipais o investimento em infraestrutura urbana e zeladoria são bastante significativos. E os prefeitos que se candidataram à reeleição com esse binômio muito presente – Rafael Greca, em Curitiba, Hissam Dehaini, em Araucária, e Marcelo Puppi, em Campo Largo, por exemplo – tiveram caminhos relativamente tranquilos em suas reeleições.

Mesmo aqueles prefeitos que encerram seus mandatos e que tiveram estas duas agendas como mote, apresentam avaliações positivas bastante elevadas, como por exemplo, Marcelo Rangel, de Ponta Grossa, e Marquinhos, de Piraquara, (que segundo o Paraná Pesquisa tem mais de 80% de aprovação). Em suma, na eleição municipal a agenda do eleitor está voltada para aspectos mais afetos ao seu cotidiano.

O que esses dois pontos apresentados sinalizam para 2022?

Provavelmente a eleição não será dominada por um espírito de mudança e Jair Bolsonaro não representa mais a mudança, contudo, este fato pode vir a favorecê-lo. Vale relembrar que nossos últimos 3 presidentes postulantes à reeleição obtiveram êxito. Isso quer dizer que ele será reeleito tranquilamente? Não! Mas serve de alerta para aqueles que já declaram sua derrota.

O fiel da balança tende a ser o segundo ponto, a agenda, pois na disputa presidencial os aspectos mais relevantes estão conectados com a questão econômica: “estou ganhando mais?”; “Comendo melhor?”; “Meus filhos têm mais oportunidades?”. Se estas respostas forem positivas as chances de reeleição serão enormes.

Processos eleitorais são multifacetados e, pela “janela” da eleição de 2020, conseguimos antever essas pequenas facetas, mas ainda temos muitas outras a conhecer até 2022. Por fim, o aperfeiçoamento por parte da Justiça Eleitoral e das plataformas de redes sociais no sentido de coibir FakeNews e a desinformação são um tremendo avanço e nos dá esperança de termos um pleito melhor em 2022.

Sigamos juntos, pensando cada vez mais estrategicamente.

 

Editoria: Análise política, Eleições Municipais