Entenda como esses dados são coletados e como podem servir de instrumento para persuadir cidadãos/eleitores.

 

Há poucos dias os noticiários foram tomados por reportagens relatando o vazamento de dados de 220 milhões de brasileiros – número que supera, inclusive, a quantidade de habitantes do Brasil, isso porque inclui dados de pessoas que já faleceram.

Qual a ligação entre esse enorme vazamento de dados, política e a imensidão de ligações indesejadas que recebemos? Explico:

Campanhas eleitorais e comunicação política bem feitas sempre estiveram baseadas em informações. Antes, para se ter acesso a estas informações, os partidos, governos e empresas recorriam às pesquisas. Hoje, buscam acumular e qualificar (usualmente se usa o termo enriquecer) as bases de dado das seguintes formas:

De forma legítima:

Dentre as formas legítimas, estão aqueles cadastros em lojas, programas de fidelidade, cookies de navegação em sites, todos pedindo a anuência de quem fornece as informações em troca de algum benefício, nem que seja a possibilidade de usar algum serviço sem pagar por ele (WhatsApp por exemplo).

De forma ilegítima:

As formas ilegítimas são aquelas que não possuem a anuência dos usuários, capturando dados além do permitido (dados de voz, dados de localização, compras, etc). Ou, ainda, roubando dados… Isso mesmo, roubando!  Alguns grupos criminosos se especializam em roubar dados de bases legítimas: bancos, empresas de telefonia, governos e programas de fidelidade, para usar com finalidades distintas.

Muitas vezes esses dados são utilizados para aplicar golpes, para fazer telemarketing indesejado por empresas mal-intencionadas que oferecem produtos, serviços e empréstimos para pessoas que não mostraram interesse neles.

Mas qual a relação destes dados com a política?

Estes dados que agora são utilizados para aplicar golpes, justamente por conter muitas informações e conhecimento sobre clientes/consumidores, amanhã serão utilizadas para persuadir cidadãos/eleitores.

Perceba, conhecendo gostos e preferências fica mais fácil desenvolver propaganda política direcionada para cada perfil de público (microtargeting). Tivemos esta experiência quando do escândalo da Cambridge analítica/Facebook, cada “eleitor” recebia mensagens pensadas exclusivamente pra ele.

O resultado desses vazamentos, além de contribuir para o crescimento de ligações indesejáveis de telemarketing (as pessoas estão cada vez mais se recusando a atender), pode contribuir para fragilizar o processo democrático ao corromper informações/propostas com o intuito exclusivo de que elas se encaixem em nosso gosto.

Então da próxima vez que um político/partido falar (via redes sociais ou mensagens) exatamente o que você queria ouvir, desconfie. Ele pode estar embrulhando ideias horríveis com uma embalagem que te agrade. E quando descobrir o conteúdo já teremos comprado gato por lebre.

Editoria: Análise política, Eleições