A crise gerada pelo Coronavírus tem sido propícia para refletirmos sobre uma série de fenômenos sociais: como compramos, como nos comunicamos, como ajudamos o próximo e como consumimos informação. Entenda como a avalanche de informações influencia a forma de pensar e a política.

A avalanche informacional e monotemática tem inundando nossas redes sociais, telefones, televisões, jornais e revistas. As informações possuem qualidade bastante diversa, desde mentiras explícitas até dados baseados em evidências científicas e, entre estes dois polos, inúmeras nuances.

Este fenômeno se chama infodemia, ou seja, a difusão de uma grande quantidade e variedade de informações de credibilidade diversa que prejudica o reconhecimento e a compreensão dos fatos reais, além de causar uma série de danos, tal qual a epidemia viral.

A infodemia não ocorre de forma espontânea, ela normalmente é produzida e alimentada por grupos de interesse que se beneficiam dela. Governos, empresários, grupos políticos, até mesmo outros países, buscam desestabilizar politicamente um adversário, enfraquecer a imagem de um país e de sua economia, ou simplesmente vender esse ou aquele fármaco ou produto.

Pela intensidade do atual momento, este fenômeno está mais evidente e nos permite compreender melhor seus mecanismos de funcionamento. Cito alguns deles:

  • Gatilhos emocionais: a infodemia atua em situações de emoções extremas, ansiedade e medo no caso da saúde, paixões e hooliganismo no caso de eleições;
  • Efeito manada: para que a infodemia funcione é necessário criar um sentimento de grupo e pertencimento em apoio a determinada mensagem, geralmente potencializado por robôs nas redes sociais;
  • Mensagens de fácil compreensão, com encadeamento lógico e simples, causando proliferação de fakenews e desinformação: normalmente as mensagens se valem de memes ou frases de efeito, de compreensão quase que imediata, capacidade restrita de verificação, citam algumas vezes cientistas desconhecidos e podem elaborar conspirações.

Estes elementos caracterizam uma infodemia, mas são típicos também das PsyOps, as chamadas guerras psicológicas muito utilizadas pelo exército americano e pela CIA. É uma estratégia de inserir muito ruído para desviar a atenção das pessoas da comunicação verdadeiramente relevante. A preocupação com a desinformação é tão grande que os maiores geradores de conteúdo – google, facebook e twitter – já adotam estratégias de checagem de informações e de alertas aos seus usuários.

Como se proteger de tudo isso?

De alguma forma as pessoas já estão encontrando estratégias para se proteger e a principal delas é examinar informações de meios confiáveis, cuja notícia foi checada.

A pesquisa do Datafolha, divulgada em março, aponta que as pessoas entrevistadas confiam mais nos Jornais de TV (61%) e Jornais impressos (56%), seguido por Rádios (50%) e Sites de Notícia (38%). Apenas 12% das pessoas confiariam em informações vindas de redes sociais. Estes dados são confirmados pelo Kantar Ibope, que demonstra que o Jornal Nacional da rede Globo atingiu picos de audiência que não alcançava nos últimos oito anos. Já a Globonews saltou da sétima posição para a primeira na audiência dos canais por assinatura, segundo o Painel Nacional de TV (PNT).

Precisamos compreender que aquela mensagem de Whatsapp, aparentemente inofensiva, de fato não é inofensiva. Nesta era de abundância de informação é nossa responsabilidade separar o joio do trigo, filtrar as informações recebidas e ter o senso crítico sempre ativo.

Ao disseminar informações sem checar a fonte ou sua veracidade nos tornamos agentes da infodemia e marionetes na estratégia política ou de negócio de alguém.

Editoria: Coronavírus