Novos nomes são alternativas viáveis para além de Lula e Bolsonaro? Já que muitos eleitores não se consideram partidários de nenhum dos dois.

 

Ao antever o cenário eleitoral de 2022, é muito difícil fugir do prognóstico de que a disputa estará concentrada principalmente entre o ex-presidente Lula (ou um preposto seu) e o atual presidente Bolsonaro. A partir deste fato, a série de artigos abordou primeiro a análise sobre os dois (confira AQUI), porém, nosso sistema não é bipartidário e possibilita que um número maior de concorrentes entre nesta disputa e alimente o sonho de alguns pelo surgimento de uma terceira via.

Mas o que significa “terceira via”?

Antes de seguirmos, vale explicar o sentido da expressão “terceira via”. Ela é aqui utilizada para representar uma alternativa aos polos constituídos/majoritários, uma via para além da dicotomia esquerda e direita. Sendo assim, a categoria não abarca – necessariamente – o conceito de “terceira via” descrita pelo sociólogo Anthony Giddens ou pelo ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair.

Quais são as condições para o surgimento desta alternativa?

O Instituto Paraná Pesquisas divulgou agora em março uma consulta a respeito de como o eleitor se consideraria. O resultado foi o seguinte:

Os dados nos apontam principalmente duas coisas: 1) os principais candidatos possuem um núcleo duro de apoio bastante consolidado, que pode ser suficiente para levá-los ao segundo turno. 2) mas, também nos mostram que os eleitores “não-apaixonados” representariam um contingente ainda maior (mais do que o dobro deles individualmente).

Além da falta de “paixão” nós temos outros catalisadores para o surgimento destas possíveis alternativas. São eles:

Frustração de cá: parte dos eleitores da centro-direita tiveram suas expectativas frustradas, quanto ao governo, em especial os lavajatistas, que de certa forma se surpreenderam com os movimentos de adesão ao centrão – indicação do Kassio Nunes Marques para a vaga no STF e o expurgo de Sergio Moro. Outros eleitores frustrados são os pró-mercado (vulgo farialimers), que não tiveram suas expectativas de privatizações e reformas atendidas.

Frustração de lá: já na centro-esquerda, a frustração ainda se mantém consistente com aqueles eleitores que já votaram no PT e se sentem traídos pela corrupção que permeou o governo, solapando o discurso de ética manifestado nos tempos de oposição. Outro grupo com rancores elevados é o de outras forças de esquerda que reclama da vocação hegemonista do PT, e só aceitaria a tal propalada frente ampla se ela fosse por eles capitaneada.

O PIB desembarcou?: dia 21 de março foi divulgada uma carta aberta intitulada “O País Exige Respeito; a Vida Necessita da Ciência e do Bom Governo”, (confira a íntegra da carta AQUI) assinada por mais de 500 pessoas, em especial economistas de prestígio, banqueiros e grandes empresários. Mesmo que o presidente não seja citado, as críticas à condução do governo ficam evidentes e transmitem um sinal claro: em havendo opção distinta e competitiva a terceira via pode receber apoio do grande empresariado, que hora já apoiou Bolsonaro.

Teremos uma terceira via?

Sergio Moro (enrolado com o STF e sobre quem escrevi um artigo inteiro que você confere AQUI), Ciro Gomes (que tenta se viabilizar como uma alternativa à Lula dentro da centro- esquerda), Luciano Huck (que segue indeciso se deixa a televisão e os negócios), João Doria (vencedor da guerra das vacinas, mas que precisa pacificar o PSDB), Amoedo (umas das grandes surpresas de 2018, mas que enfrenta problemas internos em seu partido, em especial com os deputados federais do NOVO), Marina Silva (tem dificuldade em sair do 1% de intenção de votos), Mandetta (enfraquecido depois do revés de Rodrigo Maia na disputa da presidência da Câmara dos Deputados) e Boulos (fortalecido pelo desempenho na disputa da prefeitura de São Paulo, disputa com Ciro a preferência da esquerda não petista) são os principais postulantes a protagonizar esta terceira via.

Todos eles enfrentam um grande desafio, caso pretendam construir esta frente ampla: alguém terá que ceder!

Ciro Gomes, Eduardo Leite, João Amoedo, João Doria, Luciano Huck e Luiz Henrique Mandetta assinaram conjuntamente um manifesto em prol da democracia (você confere a íntegra do documento AQUI), o que pode ser um primeiro sinal nesse sentido de união, mas para que esta alternativa seja viável é necessário reduzir a pulverização de nomes e alguns projetos pessoais precisam ser deixados de lado, tornando-se um grande obstáculo, pois demanda a superação de vaidades, por vezes intransponível na política.

Editoria: Análise política, Eleições, Pesquisa